Em Angola já não se registavam novos casos de febre-amarela desde 23 de Junho deste ano, segundo revelou no início deste mês a Organização Mundial da Saúde (OMS). No entanto, hoje a OMS volta a anunciar que a epidemia, que já afectou pelo menos 4.100 pessoas, afinal ainda anda por aí.
A febre-amarela, como outras doenças, continua a mostrar que as autoridades responsáveis têm sérias dificuldades em lidar como problema, sobretudo porque o combate implica um enorme esforço financeiro para os cofres do Estado, não parecendo que as prioridades nos gastos estejam viradas para a saúde.
O surgimento da febre-amarela também obrigou a classe médica a um grande esforço para controlar os efeitos da doença, reconheceu Carlos Pinto de Sousa, bastonário da Ordem dos Médicos de Angola, que falou à DW África durante o VII Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa que decorreu no início deste mês na cidade do Porto, em Portugal.
“Houve uma mobilização muito grande a nível nacional e com o esforço, naturalmente, do Ministério da Saúde e dos governos provinciais foi possível debelarmos a epidemia, o que é muito bom. Portanto, a classe esteve ao nível e as estruturas naturalmente e outros profissionais também envolveram-se de uma forma muito grande neste trabalho,” avaliou o bastonário, na altura confortado pelo factos de não haver registo de mais casos.
“Nós temos que continuar a apostar sobretudo na prevenção e a classe médica, naturalmente, terá formação contínua nesta área muito importante, apostando nomeadamente na especialização em saúde pública e áreas afins,” referiu Pinto de Sousa.
Nesse mesmo congresso, médicos angolanos ouvidos pela DW África disseram que o perigo, a nível nacional e regional, não estava posto de lado. Tinham razão.
A aproximação da época das chuvas suscita preocupação de alastramento da doença, espalhada pelo mosquito transmissor Aedes Aegypti a zonas do país onde a vacinação não chegou. O alerta foi então deixado por Armindo José Queza, médico angolano de saúde pública, que trabalha na região do Grande Porto, onde acompanha a situação no seu país: “O acumular do lixo, a falta de saneamento, com a época das chuvas, propiciam o surgimento ou o ressurgimento de algumas epidemias que já estavam ou controladas ou mesmo eliminadas e quase erradicadas. É o que aconteceu com o ressurgimento da febre-amarela em Angola.”
Armindo José Queza também disse que “temos é que proporcionar qualidade de vida e saúde ambiental. Porque havendo saúde ambiental adequada vamos prevenir várias doenças. Nesse caso vamos gastar menos recursos com a assistência medicamentosa e apostamos mais na prevenção.”
Para este médico angolano há várias lições a tirar do surto da febre-amarela em Angola. Por exemplo, importa reconhecer que a responsabilidade da saúde pública é transversal a toda a sociedade, e não cabe apenas ao Ministério da Saúde.
De acordo com o mais recente relatório da OMS, foram registados como positivos quatro casos suspeitos, mas dois foram descartados por terem sido “vacinados recentemente”, enquanto os dois restantes estão sob investigação das autoridades de saúde.
Apesar deste registo, a OMS, que está a trabalhar directamente com as autoridades de saúde angolanas na contenção da epidemia, refere que a média de casos suspeitos – que não chegam a ser confirmados em laboratório – de febre-amarela em Angola desceu para menos de 30 na última semana, contra os anteriores 59.
Acrescenta que entre 5 de Dezembro e 8 de Setembro foram registados em todo o país 4.100 casos suspeitos de febre-amarela – 884 dos quais confirmados laboratorialmente – e 373 mortes, representando uma taxa de mortalidade da doença de 9,1%.
A epidemia alastrou para a vizinha República Democrática do Congo (RDCongo), com 2.707 casos suspeitos. No total, a OMS refere que foram laboratorialmente confirmados 76 casos, dos quais pelo menos 56 comprovadamente importados de Angola. Até 14 de Setembro, a epidemia matou 115 pessoas na RDCongo, ainda segundo a OMS.
Folha 8 com Lusa